Como ensino filosofia #5 - O "pós-grama"


  Adentramos agora à segunda parte desta websérie Como ensino filosofia? ! Ela é dedicada aos conteúdos que desenvolvi ao longo destes anos para o ensino de filosofia nas três séries do ensino médio. Tais conteúdos formam um todo articulado que eu chamei de currículo I, e que passarei a compartilhar com vcs a partir das próximas postagens. 

  Mas, por hora, uma reflexão sobre a importância de um registro sistemático das aulas como ferramente de lapidação do plano de ensino do professor.


                    O "pós-grama"


  O que eu chamei de “pós-grama” é o registro de todas as minhas aulas para cada série do ensino médio durante um ano letivo. Como eu descrevo no vídeo, isso surgiu da necessidade de organização das minhas práticas em sala de aula e se mostrou como uma ferramenta bastante útil para o incremento destas aulas ao longo dos anos. Veja a página inicial do pós-grama do primeiro ano:




Foi necessária alguma imaginação para padronizar este registro, pois minha intenção era anotar não apenas o conteúdo escrito que os alunos copiam, a “matéria”, mas também as coisas que eu falo; o modo como encaminho a exposição deste conteúdo. Assim, usei duas cores no editor de texto: o que está em preto é o que será escrito no quadro e os alunos devem ter no caderno; o que está em cinza é aquilo que eu falo, apenas. É claro que eu acabo falando muitas coisas mais do que está presente no registro (e este é um tema interessante que pretendo abordar mais adiante; o da aula como uma performance), mas o básico ficou marcado ali. 

  Usando o google docs, “fabriquei” também alguns ícones padrão com formas geométricas diferentes para assinalar recursos didáticos como vídeos, leituras e slides. Assim, eu já tenho pronto o ícone e, ao atualizar o registro ao final de cada ano, é só colar o mesmo sempre que há necessidade em cada um dos registros. 



Outro ponto importante foi a divisão do conteúdo em suas respectivas aulas, o que me permite ser mais preciso em programar quantos encontros são necessários para dar conta de tais e tais conteúdos e atividades, etc. É bem comum que imaginemos inicialmente um tema para trabalhar com os alunos e ele se estenda mais do que o esperado, ou se esgote rápido demais. Mas se vc avaliar seu trabalho ano a ano através destes registros, levando sempre em conta os feedbacks fornecidos pelos alunos, fica bem mais fácil encontrar a justa medida de tempo para cada conteúdo. Neste sentido é muito importante prestar atenção e realmente sentir o nível de atenção e interesse dos alunos referente às atividades que você se propõe a desenvolver. Qual o sentido em repetir, ano a ano e da mesma forma, aquele longo texto que não interessa a ninguém? Ou aquele vídeo em que quase todos dormem? 

  É claro que da forma como nosso sistema de ensino é configurado, não é possível se pautar apenas pelo interesse dos alunos. Há conteúdos importantes que podem não interessar a todos ou mesmo à maioria, mas que julgamos necessários. Porém, a maneira de apresentar estes conteúdos pode sempre mudar. Acredito que sempre é possível encontrar uma forma mais atrativa de expor um tema filosófico. Mas isso faz parte de um trabalho bastante empírico de atenção à reação dos alunos. E este trabalho ganha um apoio importante com este registro sistemático das aulas através de um pós-grama.

Dica:

  Se você gostou da ideia e quer sistematizar seus registros de aula, tenha em mente que é preciso anotar apenas o que você efetivamente fez no ano que passou. Neste processo naturalmente já vão surgindo várias ideias de aprimoramento e a tendência é querer já registrar uma aula “melhorada”, mas isso não é uma boa ideia, pois aí você mistura o registro com um programa. Separar estas coisas foi bem difícil para mim no primeiro ano.   Anote apenas a aula como ela foi, sem misturar as ideias para melhorá-la. Estas você vai anotando em um lugar separado, para por em prática no próximo ano e ver o que acontece. Após ter dado novamente esta aula experimentando novas estratégias e ver como elas funcionam, aí sim você altera o registro.

  Por fim, após quatro ou cinco anos cheguei a uma elaboração que considerei suficiente e definitiva (chamei-a de “currículo I”). Mesmo assim, continuo mantendo registros independentes ano a ano, apenas com as alterações que vou implementando. Estas inovações já começam a integrar minha intenção de construir para um futuro próximo um currículo II. E este projeto como ensino filosofia? é também parte desta iniciativa.

Acompanhe o projeto "Como ensino filosofia?". Toda quinta um novo conteúdo :)
 

Comentários

  1. Gostei muito das ideias apresentadas. Sigo acompanhando atentamente esta excelente série de textos e vídeos.

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