Um paralelo entre telos e ambição, ética e deontologia. E a importância da deontologia para o exercício e sucesso nas carreiras profissionais

por Mário Sérgio Silva da Silva* 
Em tempos tão fortemente marcados pelas consequências dos atos e comportamento das pessoas, refletir sobre Ética pode-nos levar a pensar melhores condutas em prol de tempos melhores. A partir das reflexões sobre as duas principais teorias éticas estudadas por Max Weber, especificamente a teleológica e a deontológica, nos possibilitamos analisar várias situações.

Quando relacionamos telos com ambição, dentro de uma perspectiva conceitual, percebemos suas semelhanças e diferenças, ainda que não nos aprofundemos nos desdobramentos de cada característica dessas teorias weberianas.

Cataneo (2015, p. 12), ao analisar as teorias de Max Weber, chama a teoria teleológica de “ética da responsabilidade [, que] defende que somos responsáveis por aquilo que fazemos. Por isso, devemos avaliar os efeitos possíveis que uma ação produz, tentando obter resultados positivos para a coletividade”. Entende que o objetivo definido pelo indivíduo valida as atitudes que tomou para alcançá-los, sendo a felicidade o fim último de sua ação.

Telos seria, então, os objetivos definidos pela pessoa em busca da sua satisfação total, da sua felicidade, aquilo que dá sentido ao caminho que fez até chegar onde chegou. Já quando define ambição, o dicionário Michaelis (2020, site) diz que se trata de: “1 desejo intenso de riqueza, poder, glória ou honras; avidez, cobiça” e “2 desejo de atingir um objetivo especifico; anseio, aspiração, determinação, pretensão”.

Assim, telos e ambição se assemelham no seu conceito, uma vez que buscam justificar o que seria a finalidade do comportamento da pessoa em busca de sua plena realização, uma vez que, conforme nos diz Kanitz (2013, site), “ambição é tudo o que você pretende fazer na vida. São seus objetivos, seus sonhos, suas resoluções (...)”. Ter ambição, no sentido explicitado na segunda definição de Michaelis, é ter um objetivo a alcançar, seja pessoal, profissional, familiar, em vários âmbitos da vida, sempre visando a felicidade do ser. Telos trata essencialmente dessa característica ética: de que todo o ser humano busca um objetivo na vida e está (ou é) impelido a buscá-lo, seja para seu próprio bem, seja para outras pessoas conjuntamente.

Nesse sentido, telos e ambição podem divergir quanto à finalidade, uma vez que a ambição, no geral e conforme a primeira definição de Michaelis, se relaciona a busca de riqueza – dinheiro e bens materiais – e, por isso, se caracteriza fortemente pelo subjetivismo e ganância. Já em telos, embora haja correntes como o egoísmo ético, trata das finalidades de satisfação pessoal e não propriamente da busca de riquezas materiais.

Ambos os comportamentos, entretanto, partindo da ideia de que “os fins justificam os meios”, podem, consequentemente, gerar prejuízos e males para outras pessoas, embora favoreça a meta estipulada como fim.

Penso que o ponto de equilíbrio seja pautar a busca por um caminho ético, que defina valores e princípios que façam alcançar a felicidade ou satisfação pessoal de forma justa e benéfica. Nesse caso, a ética do campo deontológico pode ser fundamental para um caminho justo em busca de um objetivo firmado.

Estabelecer princípios e, por eles, normas de conduta para bem viver e alcançar os objetivos da vida de maneira justa tem sua base na teoria ética deontológica, pois, como nos afirma Schulze (2015, p.39), ela “determina o que é correto, não segundo uma finalidade a ser atingida, mas segundo as regras e as normas em que se fundamenta a própria ação ética”.

O que possibilita a adoção de regras claras e justas é a própria ética. Não é a ação em si, mas a reflexão necessária para que se possibilite adotar comportamentos que permitam chegar a um objetivo por um caminho que não cause danos a outrem ou a um coletivo de pessoas. Nessa perspectiva, vale considerar o que assevera Cataneo (2015, p. 9) quando diz que “o objetivo de uma teoria ética é determinar o que é bom, tanto para o indivíduo como para a sociedade como um todo”.

E, assim, determinando o que é bom, favorece a criação do caminho correto para traduzir esse bom em atitudes virtuosas, que levem a bons objetivos obedecendo preceitos claros e justos. Isso é deontologia. É quem estabelece os princípios para fazer as devidas escolhas corretamente, a partir das análises proporcionadas pela reflexão ética. Dessa forma, a busca por um objetivo que satisfaça é trilhada tendo como base princípios éticos que iluminam e favorecem a conduta moral, para que os meios sejam justos até o alcance do fim, sem condutas não condizentes com o caráter e as virtudes de um ser humano ético.

Deste modo, a ética é a reflexão sobre a conduta moral das pessoas; é, como diz Cataneo (idem), “a filosofia da ação”, demonstrando o que há de bom e ruim para favorecer uma escolha justa para a pessoa e a sociedade onde está inserido. A deontologia é a tradução da escolha advinda da profunda reflexão ética em princípios e regras que propiciem seguir um caminho justo, tendo um fim que promova uma felicidade e satisfação justa para todos.

Tal necessidade parte justamente do fato de cada indivíduo ter uma estrutura histórico-cultural e de pensamento diferente dos demais. As regras advindas da reflexão ética buscam, mesmo em meio às diferenças, propiciar um caminho justo e igual, que culmine num objetivo que satisfaça a todos.

Dentro dessa lógica, a vida e a carreira profissional de um coletivo de pessoas e os objetivos estratégicos de uma empresa ou organização só terão grandes resultados se forem pautados por princípios e normas que conduzam todos dentro da filosofia de ação da organização da qual fazem parte.

É fato que todo o profissional busca a sua plena realização no que faz. Todos os profissionais de uma organização têm esse objetivo em comum. Como cada um possui personalidades diferentes, correm o risco de tomarem atitudes diferentes na busca de seus objetivos. Neste sentido, é imprescindível estabelecer princípios e regras que pautem as ações dos profissionais.


Vivemos em sociedades plurais, com interesses, forças e vontades diversas e, não raras vezes, contraditórias. E, nem todos têm bom senso ou são virtuosos. Os princípios são necessários para orientar nossa ação. Mesmo quando preocupados com a consequência dos nossos atos, é o princípio que orientará a escolha a ser feita. (BUGLIONE, 2015, p. 27)

Por isso, a importância de haver princípios que orientem a atividade profissional. É a segurança necessária para que uma organização e cada profissional individualmente sigam em busca dos seus objetivos de maneira justa e eficaz, sempre pautados pelas normas estabelecidas, baseadas na filosofia ética e valores constituídos pela reflexão ética. Para tanto, ética e deontologia agem juntas para que o profissional entenda, a partir de uma reflexão, o sentido real de seguir um caminho justo e, consequentemente, siga os princípios e as normas estabelecidos a partir da reflexão realizada.

Os códigos de ética profissional, por exemplo, buscam documentar e sistematizar os princípios e normas de uma organização, de modo que os seus membros, ao tomarem conhecimento, assimilarem e seguirem o que está oficialmente registrado, sigam a filosofia de ação da organização e passem a obedecer seus preceitos, que passam a ter valor jurídico, implicando, assim, em sanções e/ou penalidades aos que descumprirem. Tais normas, geralmente, são frutos da filosofia de ação, valores e visão estratégica da instituição. Por esse motivo, levam a uma igualdade no desenvolvimento das atividades de todos os profissionais, com respeito e alteridade, na busca de um objetivo comum e, por conseguinte, na realização profissional de todos.

Uma vida profissional que não se paute por uma conduta lógica, bem estruturada e justa pode levar a qualquer lugar. A ética/deontologia reflete sobre os objetivos de vida e propicia a construção de um caminho justo e certo que faça chegar até eles, com princípios e normas claros e eficazes.

Citando também o escritor Lewis Carrol na obra “Alice no País das Maravilhas”, tomado como exemplo por Buglione (ibid., p. 30): “Se você não vai para lugar nenhum, qualquer direção serve”, importa concluir que a ética/deontologia na carreira profissional faz o indivíduo compreender que objetivo deve buscar e qual caminho deve seguir até o mesmo, tendo todos os instrumentos de busca definidos pelos princípios éticos e morais que conseguiu determinar para a sua vida.

Mário Sérgio Silva da Silva Tecnólogo em Segurança no Trânsito – UNISUL. Especialista em Gestão de Trânsito – UNISUL. Pós-graduando em Direito do Trânsito – UNISUL.

REFERÊNCIAS

AMBIÇÃO. In: MICHAELIS: Dicionário da língua portuguesa. São Paulo, SP: Ed. Melhoramentos, 2020. Disponível em: . Acesso em: 5 jun. 2020.

CATANEO, Marciel Evangelista (org.); BUGLIONE, Samantha; SCHULZE, Carmelita; CATANEO, Marciel Evangelista [Conteudistas]; Ética, direitos humanos e direitos da cidadania: livro didático. Palhoça: UnisulVirtual, 2015.

KANITZ, Stephen. Ambição e Ética. São Paulo, SP, 2013. Disponível em: http://blog.kanitz.com.br/ambicao-etica/> Acesso em: 5 jun. 2020.

* Mário Sérgio Silva da Silva Tecnólogo em Segurança no Trânsito, Especialista em Gestão de Trânsito e Pós-graduando em Direito do Trânsito pela Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL.

Servidor de carreira do Departamento de Trânsito do Estado do Pará – DETRAN/PA há 12 anos, no cargo efetivo de Agente de Fiscalização de Trânsito, tendo exercido, em 2016, a função de Chefe de Grupo de Operação e Fiscalização de Trânsito da Circunscrição de Trânsito “A” de Castanhal, com sede no Município de Castanhal/Pa.

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