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Mostrando postagens de agosto, 2020

Série Boas produções - Textos filosóficos antigos - explicar e comentar textos

  Passagem escolhida:   - E diante disso, Gláucon, com que base podemos sustentar ou argumentar que a injustiça, o desregramento e a realização de atos vergonhosos são vantajosos, uma vez que mesmo que alguém possa disso extrair mais dinheiro ou poder, isso tornará piores as pessoas? - Não há como fazê-lo. - E como sustentar que cometer injustiça sem ser descoberto e ser punido por isso é vantajoso ou proveitoso? Não se torna a pessoa que permanece sem ser detectada ainda pior, enquanto a parte animal daquela que é detectada é acalmada e domada, permitindo a liberação da parte dócil, de maneira que a alma toda se enquadra em sua melhor natureza, alcança moderação, justiça e sabedoria em uma condição mais valiosa do que a condição na qual se possui um corpo forte, belo, saudável, uma vez que a própria alma é mais valiosa do que o corpo? - Com toda a certeza”, ele disse. (PLATÃO, A República , IX, 591a).   Texto Explicativo   Moderação e Justiça como significação da f

Séria Boas práticas - Textos filosóficos antigos e medievais 2020b - explicação e comentário

  A passagem escolhida   A passagem a seguir é um diálogo entre Adimanto e Sócrates. Adimanto pergunta a Sócrates:   – A que malfeitorias te referes? – Por exemplo, roubam, assaltam casas, vão às carteiras, tiram a roupa, saqueiam os templos, vendem como escravos pessoas livres; há-os que são delatores, quando têm capacidade de falar, que são falsas testemunhas e que aceitam subornos. – São realmente pequenas malfeitorias, se esses homens forem em pequeno número! – Sim, porque o pequeno é pequeno em comparação com o que é grande, e todas estas malfeitorias, comparadas com o que é um tirano, relativamente à perversão e desgraça de uma cidade, não lhe chegam, como é costume dizer-se, aos calcanhares. Porém, quando num Estado há muitas pessoas desse jaez, e são muitos os que as seguem, e eles se apercebem do seu número, então são esses os que, com a cumplicidade da estupidez do povo, geram um tirano, que será aquele que, dentre todos, albergar na sua alma o tirano maior e m

Série Boas produções Textos filosóficos antigos e medievais 2020b Explicação e comentário

  Anotações sobre a educação na República platônica   Bruno Nunes Batista               Obra capital da Filosofia Antiga e contribuição que se alastra no âmbito da Teoria do Conhecimento, da Metafísica, da Política, da Estética, da Ontologia e da Ética, A República , de Platão, tornou-se de fato um texto monumental para compreender a tradição filosófica ocidental. Ao longo dos seus livros, as nuances são inúmeras e as entradas múltiplas, de forma que um resumo geral do que o filósofo grego quis dizer ao longo dos seus dez livros é uma tarefa tanto impossível quanto lastimável, haja visto que esse clássico deve ser lido minuciosamente, pois cada parágrafo nos reserva um interior de possibilidades. Consequentemente, ao analista cabe realizar escolhas e estabelecer procedimentos, para que assim possa apreender nos detalhes o que Platão estava, com efeito, a dizer. Este é o objetivo deste pequeno ensaio. Tomando por base uma passagem do Livro IX, na qual a educação das crianças na

Série Boas produções - 2020-2 -Textos filosóficos antiigos e medievais

  Os Guardiões poderão ser felizes no Estado proposto por Platão em A República Uma leitura filosófica   João Eduardo Chagas Sobral   O presente trabalho apresenta como objetivo dissertar sobre uma leitura e uma possível interpretação textual do recorte Os guardiões serão felizes? , parte do livro A República contido nos Livros IV (419a-420a) e V (465a). Entretanto, para fundamentar a explicação, foram visitados também, partes anteriores e posteriores a este recorte. Ao longo da dissertação destaca-se ainda a estrutura do texto, onde são apontadas marcas intratextuais, imagens, hipóteses e desvios realizados pelo autor. A leitura foi realizada com base no livro, A República (ou da Justiça ) , tradução realizada por Edson Bini e publicado pela editora Edipro, 3ª edição em 2019. A metodologia utilizada nesta leitura se caracterizada como dogmática e explicativa, já que questões históricas e de contexto não serão abordadas, restringindo-se, portanto, à estrutura interna

Série Boas produções - 2020b Textos filosóficos antigos e medievais.

  Na República de Platão, os guardiões são felizes   Edvaldo Nazareno Carvalho Faria   Introdução   É próprio dos filósofos estabelecerem um caminho para estampar suas ideias. Esse caminho, qualquer que seja ele – e são muitos os caminhos porque são muitos os filósofos –, é revestido de um matiz que traz em seu bojo uma rigorosa medida, como se fora sua régua de pedreiro, sua ferramenta a qual lhe possibilitará afirmar se tal ou qual argumento está contemplado no universo criado por ele, ou se deva ser descartado. Só para ficar em um exemplo, René Descartes (2004, pp. 49-50), em sua obra Discurso do método , criou seu caminho. O filósofo francês elencou os passos basilares de sua caminhada, enquadrando cada objeto de seu estudo com um implacável crivo, seguindo um roteiro preestabelecido: primeiro duvidar, depois analisar, em seguida sintetizar e por último enumerar. Após esses cuidados imprescindíveis, Descartes dizia estar apto a tomar sua decisão. Platão tinha um méto