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Mostrando postagens de dezembro, 2018

Como ensino filosofia? # 18 - Ensinar para todos é uma utopia

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Ensinar para todos é uma utopia   As reflexões feitas nesta série partem diretamente do chão da sala de aula, do fazer diário da educação junto aos jovens do ensino médio. Assim, o princípio geral de que “ensinar para todos é uma utopia”, talvez pareça de início uma posição conformista, ou mesmo exclusivista, sugerindo a imagem daquele professor que só dá atenção aos seus alunos mais interessados e capazes. Mas não é isso que pretendo afirmar.    A noção de que muito raramente se consegue a atenção plena de uma turma de ensino médio advém de uma posição realista e me ajuda justamente a não comprometer tanto a dinâmica das minhas aulas, como a maioria dos professores costuma fazer ao intercalar a exposição do conteúdo com chamadas de atenção e broncas recorrentes. Ao manter uma “expectativa de audiência” um pouco mais baixa, eu vou seguindo com minha exposição ou comentários e permito que os alunos se incluam cada um a seu tempo no ritmo da aula. As vezes isso ocorre natural

Como ensino filosofia? # 17 - Como ler um texto?

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Como ler um texto?  Este é um artigo aporético.   Me lembro que quando comecei a pensar seriamente em dar aulas de filosofa, eu me enxergava selecionando trechos de textos filosóficos e lendo com meus alunos. Embora soubesse das dificuldades para fazer com que jovens leiam mais e melhor, e embora ciente das dificuldades específicas que envolvem a leitura filosófica, eu pensava que talvez o segredo estivesse na seleção correta de pequenos trechos e em um trabalho mais atencioso de leitura conjunta. O empenho do professor deveria fazer a diferença. Eu iria então, com paciência, avançando na exposição e compreensão de pequenas partes do texto e esclarecendo ideias que não estavam evidentes aos alunos. Estes por sua vez, gradualmente começariam a compreender o texto em sua inteireza, reconhecer o seu valor enquanto uma “peça do pensamento humano” e, talvez, até admirar a habilidade do autor em conduzir nossa reflexão através de palavras tão bem colocadas… Mas isso foi um sonho que em

Como ensino filosofia? # 16 - Sobre ouvir música

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Sobre ouvir música   Se eu tivesse na escola minha própria “sala de filosofia”, onde recebesse todas as minhas turmas para as aulas, então certamente eu teria lá um toca-discos. Aí meus alunos poderiam vivenciar a experiência completa de ouvir o álbum de um artista ou de uma banda: enquanto os ouvidos acompanham a música, as mãos e os olhos investigam a capa do disco, o encarte e as letras. Uma atenção maior talvez revele o ano da obra e outros detalhes técnicos da gravação; algo muito diferente de simplesmente baixar todas as músicas de seu artista preferido em mp3.    Mas de volta do sonho para a realidade das salas de aula, apesar do potencial das músicas como conteúdo para o ensino de filosofia, foi necessário um esforço considerável para vencer as dificuldades envolvidas em apresentar uma música para meus alunos. Como eu disse no vídeo, conseguir a atenção e o silêncio de uma turma inteira a ponto de apreender a letra de uma música não é tarefa fácil!    Uma das formas m

A GRANDE ARTE: VIVER E SER FELIZ

Eis um dos bons textos produzido na Unidade de aprendizagem "Filosofia na Grécia Antiga". A GRANDE ARTE: VIVER E SER FELIZ Edvaldo Nazareno Carvalho Faria [*] Se não revelar o que penso através de uma declaração formal, o farei através de minha conduta. Não julgais que ações são provas mais confiáveis do que palavras? (SÓCRATES, 2012). Apaguemos a lanterna de Diógenes; achei um homem. (ASSIS, 1997). Se o que você possui lhe parece insuficiente, então, mesmo que você possua o mundo, ainda irá sentir-se infeliz. (SÊNECA, 2000). Do que eu preciso para ser feliz? Essa enquete poderia ser feita nos dias de hoje e obter-se-iam sugestões como estas: dinheiro, muito dinheiro; bens, em grande quantidade; “um milhão de amigos”, diria um cantor popular. Parece inacreditável, mas há dois milênios muitos filósofos debruçaram sobre essa questão e nos surpreenderam com suas inusitadas sugestões para se adentrar o território da Felicidade. Homens como Antístenes de Atenas

Como ensino filosofia? # 15 - Avaliar menos

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        Avaliar menos    Dando continuidade ao tema das provas levantado no post anterior, trago hoje a proposta de avaliar menos como um princípio geral que tenho adotado em minhas aulas de filosofia. Como disse no vídeo, todo processo de aprendizagem requer momentos de avaliação como parte essencial de seu desenvolvimento. Mas e quando o número de avaliações é maior do que as oportunidades de aprendizagem? Este me parece um problema evidente no contexto do ensino escolar atual.   No vídeo me referi especificamente a provas, mas certamente professores se utilizam de um repertório bem variado de instrumentos de avaliação, como tarefas de casa, pesquisas, trabalhos em grupo com apresentação oral, redações e por aí vai. Esta variedade de instrumentos para avaliar o desempenho do aluno é importante e pode trazer mais dinâmica ao andamento de cada disciplina.   Vou deixar o tema mais profundo da reflexão crítica sobre o papel das provas na educação escolar para um outro momento. Aqui