Série Resenhas

Eis mais uma das produções derivadas de exercícios avaliativos solicitados nas Unidades de aprendizagem. Desta feita, uma produção de um estudante de Administração para Filosofia e ética na gestão de negócios.



Ética e Vergonha na Cara!

Roberto Cezar Pereira[1]

Este é o título de um livro escrito por Mário Sérgio Cortella e Clóvis de Barros Filho, a partir de um diálogo entre os dois, no qual vão surgindo os seguintes temas: A ética da conveniência; A ilusão moral do foco no resultado; Qual é o resultado que torna justo o caminho?; Ética como Instrução; Não há vida sem escolha e não há escolha sem valor; Corrupção: Consequência do sistema?; Uma questão de escolha; A corrupção e o sistema político; A corrupção e a família; e É vergonhoso não ser querido.
            Como pai, o capítulo que despertou minha atenção foi o A corrupção e a família, o qual vou tentar resenhar a seguir. Nele Cortella inicia afirmando que ao falarmos de vida devemos falar de vida pública e então dividi-la em vida pública privada – o indivíduo – e a vida pública estatal – o governo, parlamento, a justiça e todos os órgãos do Estado que objetiva preservar a vida ou controlar o próprio Estado.
            Ele defende a necessidade de a família atuar como bancada para impedir a corrupção na vida pública privada, ou seja, pais devem ser firmes, não aparentar frouxidão de atitudes. E exemplifica que se dentro da família a corrupção for admitida, ela se estabelecerá e partir daí destruirá a disciplina, ordem e sanidade social. Defende o princípio do exemplo familiar para o indivíduo e evitar qualquer contradição, mesmo às custas de possíveis constrangimentos, pois isso, segundo ele, gera um efeito maior de natureza ética na formação e educação dos filhos.
            Quanto ao papel da escola, ele expõe a dificuldade do professor, muitas vezes, de exercer seu papel de complementar no exemplo e na cobrança da correção de atitudes dos alunos, porque os pais, em sua maioria, trocam a relação de ensino pelo Código de Defesa do Consumidor ao tratar com os professores, transformando uma relação que inicialmente visaria formação científica, cidadã e de convivência ética saudável em mercadoria. Nesse caso, segundo ele, não há uma corrupção monetária, mas, ainda pior, uma corrupção que apodrece a convivência decente.
            Ele aponta também a corrupção na troca de favores e, mais uma vez, lembra da necessidade de inflexibilidade, principalmente na família, para diminuir qualquer chance de corrupção. Aponta mecanismos que cercam a possibilidade humana de corrupção como o estabelecimento de regras de convivência que permitam ao indivíduo a autonomia, mas não a soberania, através da formação e coerção e, enaltecendo os exemplos das boas escolhas.
            Por fim, Clóvis elenca critérios que definem modos particulares pelos quais existimos em sociedade, os quais eram, durante muito tempo, dever exclusivo das famílias e comunidades repassá-los. No entanto tal papel, hoje, foi transferido ao sistema educacional, em sua quase totalidade, por ter ocorrido o que ele chama de corrupção de modos de existência por princípios de existência social.
            Ao mesmo tempo, há também, um esforço de perpetuidade das posições sociais e a educação está assumindo mais o papel de reprodução dos modos de dominação, das posições sociais, mais voltada à consequência do que orientada a princípios morais de convivência.
            O papel de moralizador e exemplar tornou-se difícil tanto para pais quanto para educadores, visto que os filhos mostram desencanto e desdém do modo de vida atual por vislumbrarem que no futuro tornar-se-á ultrapassado.
            Mesmo com todos os problemas e necessidades apresentadas pelos autores ainda podemos perceber que nem toda a vida pública privada ou estatal atual está corrompida. Exemplo disso foi uma reportagem apresentada pela Rede Globo de Televisão no programa dominical Fantástico, no dia 30 de abril do corrente ano, no qual foi apresentada uma cidade na Suécia onde podemos colher muitos exemplos de condutas éticas e exemplos positivos tanto dos indivíduos, quanto de sua classe política, dos quais Cortella pede que sejam exaltados.
            Um dos aspectos que podemos extrair do texto e que também é tratado no livro didático Filosofia e ética na gestão de negócios (CATANEO E OUTROS, 2011), é “a falta que a ética faz” em nossa sociedade. Ou seja, há uma necessidade de repensarmos nossos atos e pensarmos enquanto sociedade, a começar por nossas famílias, para que consigamos viver e morrer segundo princípios e fins e não por aquilo que é só um meio. Devemos sempre agir tendo em vista o objetivo final e não pensar no prazer momentâneo de um ato isolado, além de não nos eximir de nossas responsabilidades.


Referências

CATANEO, Marcel Evangelista. Filosofia e ética na gestão de negócios. 2. ed. Palhoça: UnisulVirtual, 2011.

CORTELLA, Mário Sergio; FILHO, Clóvis de Barros. Ética e Vergonha na Cara! Campinas, SP: Papirus 7 Mares, 2014.


[1] Estudante do curso de Administra da Unisul.

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