Sobre a greve, direitos e privilégios

Segue uma breve reflexão sobre nosso momento histórico, a partir da questão da greve dos caminhoneiros e suas possíveis soluções.

(texto originalmente postado em minha página do facebook - peço desculpas pelo caráter informal)


Eu penso que esse é um momento no qual é preciso que todos nós entendamos o significado da palavra austeridade, como dificuldades que aceitamos voluntariamente em nome de algo maior. Nessa semana que começa precisamos urgentemente aguentar firme, manter nosso apoio à greve dos caminhoneiros e nossa atenção às saídas ilusórias que o governo possa propor para "resolver" a situação.

É claro que há narrativas extremamente divergentes sobre o cenário político e como chegamos até aqui. Mas o fato é que,eu, você, todos nós nos encontramos juntos aqui agora, num daqueles instantes da história capaz de nos tirar em bloco de nossa zona de conforto. Coisas assim não podem ser desperdiçadas. Neste momento não pode haver direita, esquerda ou centro. Devem haver brasileiros, solidários e humanos o suficiente para reconhecer que não dá mais.

Penso que não é hora de esperar tudo voltar ao normal, mas sim de reconhecer o caos político em que nos encontramos, onde o povo se encontra refém de governantes que fazem o que querem sem pensar no amanhã. Começar uma semana verdadeiramente anormal, sem tapar o sol com a peneira.

Está na cara que as "soluções" do governo para atender às reivindicações dos caminhoneiros vão recair na velha alegação: "não temos dinheiro para bancar essas mudanças." Isso poder ser verdadeiro em um nível superficial, que é o nível do status Quo, isto é, das coisas como já estão. Mas de modo algum é verdadeiro no nível daquilo que deveria ser uma nação, com direitos iguais e muito,muito, muito menos privilégios para algumas classes. Está na cara que quem vai pagar essa conta somos nós mesmos, transferindo a oneração de um imposto para outros impostos, ou cortando dinheiro de educação e saúde.

Assim, penso que é preciso agora que o povo comece a encontrar a sua pauta de reivindicação e as suas sugestões para resolver o problema, em vez de apenas aceitar o que vem de cima. E aí vai a minha sugestão pessoal: 

O rombo causado pela extinção dos impostos (pis, cofins e cide) pode muito bem ser tapado por uma redução drástica redução nos privilégios do executivo, legislativo e judiciário, a partir de agora, do mês de junho! Falo dos "pinduricalhos", que permitem que pessoas que chegam a ganhar mais R$ 20.000,00, R$ 30.000,00 por mês em seus vencimentos (estaria bom para vc?) recebam muito mais do que isso em bonificações e "auxílios-tudo".

Isso para começar. Num momento posterior um plebiscito poderia decidir um teto salarial verdadeiro (sem pinduricalhos) e  mais realista para cargos públicos de alto escalão, diante da pobreza de tantos brasileiros. Ao mesmo tempo, remanejar essa verdadeira montanha de dinheiro para um piso mais decente para os funcionários públicos em geral e investimentos em saúde e educação.

É claro que se trata de uma sugestão leiga, em termos de trâmites legais,constitucionais, etc. Especialistas bem intencionados poderiam avaliar propostas deste tipo e sua viabilidade.

Gostou?  Então formule suas próprias propostas sobre como a situação dos caminhoneiros poderia ser resolvida e divulgue por aí.  Precisamos de uma pauta popular, sem esperar que soluções verdadeiras possam vir de um governo que ignora a maior parte da população e só pensa em suas negociatas. Precisamos de greves sem esperar por sindicatos (outras instituições de índole bastante duvidosa, lamento dizer). Precisamos nos olhar como seres humanos, como brasileiros e lembrar que todos juntos detemos o poder da nação, sem intervenção alguma.





Comentários

  1. Em certas greves, a força pública prende e arrebenta, algema, dispersa, detona bombas de efeito moral, balas de borracha. Nesta greve de “caminhoneiros”; a força pública até demonstra apoio! O que há de errado? Alguém falou no preço da gasolina? Não! Só do diesel. Alguém falou em melhorar o salário e condições do caminhoneiro empregado? Não. Apenas falaram em subsidiar o diesel. Ora, quem comanda esta greve são as grandes empresas de transporte! O povo e os motoristas são marionetes úteis! Vou ali pedalar!

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  2. Vamos de crise em crise até o fim da República.

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  3. O problema da paralisação dos caminhoneiros é apenas a verificação de um problema de saúde social e que se sente que o " estamento burocrático " dessa república carcomida e podre é insustentável. Não dá mais, uma carga tributária real e somada em efeito cascata dá mais de 43,50% do PIB, sobrando apenas do suor dos trabalhadores brasileiros 53,5%, ou seja , não temos saúde que presta, pois o SUS não funciona, então pega dos 56,5% que sobrou e pague um plano particular, a educação ( instrução) não é boa, então pega dos 56,50% e pague um bom colégio particular para seus filhos, a segurança pública não é boa, pega dos 56,5% que te sobrou e pague segurança privada, resumindo, assim não dá, esta crise e outras que tiveram , e outras que ainda virão é a simples e patente realidade constatada : pagamos 2 vezes a mesma coisa. O estamento burocrático tão aprofundado e sistematizado pelo Raymundo Faoro em sua grande obra Os Donos do Poder, traduzindo em linguagem popular, a classe política é o estamento burocrático, ela é brega, atrasada , retrógrada, ávida pelo ilegal e principalmente pelo imoral. Essa mesma classe emperra o brasil com leis que depõem contra a cultura corrente e natural do povo brasileiro, em suma são traidores. Fiquem tranquilos está chegando ao fim está fase da república , tomara Deus, que ao refletirmos e tomarmos conhecimento sobre voltemos atrás e retomemos o projeto monárquico parlamentarista brasileiro, esse sim , natural, muito mais estável, defende o tradicional e tolera o moderno e revolucionário dando espaço e voz proporcional a todos. Seu poder moderador harmoniza os três poderes e permite intervenção popular natural pelo plebiscito, as forças armadas não são a última instância e sim o Imperador. O sistema monárquico é muito mais barato e por isso cobra menos imposto se comparado a república, entre outros os países que optaram pela monarquia tem os melhores e mais altos IDH e maior divisão das riquezas do país, tem os maiores índices de democracia do planeta, etc...etc... etc... Viva o Imperador !!!

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  4. Em meio ao caos da semana passada , a Câmara de vereadores aqui de São Paulo aprovou mais regalias para eles próprios, como aumento de gratificação e auxílio saúde. Assim, o povo vai pulando de problema em problema sem tempo para ver e cobrar o que realmente precisa. Diante disso, segue meu desabafo em versos, lembrando um pouco de Drumond:

    E agora Brasil?

    Chegamos no limite de tanta corrupção.
    Façamos o impeachment ou virá a intervenção!
    Mas é tanta roubalheira, isso precisa acabar.
    Então vamos pra rua ou a ditadura irá voltar.

    Chegamos no limite, o volume morto se esgotou.
    A Cantareira abaixou, a torneira secou, a água acabou.
    Mas não houve planejamento, como deixaram acabar?
    Só Deus pra nos salvar e muita chuva nos mandar.

    Chegamos no limite de nossa paciência,
    Também no limite está a Previdência.
    Há tantos privilégios para se cortar.
    Mas se não fizermos a Reforma, o país irá quebrar.

    Chegamos no limite, estamos morrendo nos hospitais.
    Mas morrendo também estão, os pobres animais.
    Vamos fechar os parques e pela vacina na fila esperar.
    Será que ela é eficiente ou perigo maior irá causar?

    Chegamos no limite e meu carro parou.
    A culpa é do caminhoneiro que a estrada bloqueou.
    Cortamos o imposto, mas na fila do posto vai ter que esperar.
    E não adianta reclamar, saúde e educação irão piorar...

    Mas assim não aguentamos, já chegamos no limite
    Calma companheiro, você é brasileiro e nunca desiste.
    Temos contas pra pagar e bocas para alimentar.
    José, deixa a Copa passar e depois voltamos a protestar!

    Anis Ribeiro 02/06/2018

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