Como ensino filosofia? # 27 - Críticas à educação escolar / parte I

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  Em sete anos tentando ensinar filosofia na escola pública, a problemática da educação escolar permanece para mim como um grande enigma. “Como dar um jeito em tudo isso?” é a questão que volta a me acossar com frequência. Percebo a complexidade da questão justamente pela dificuldade em apontar um conjunto determinado de problemas a resolver, a partir dos quais tudo estaria em ordem. Talvez a escola, como se encontra estruturada, realmente padeça de uma problema de concepção; um problema de design a partir de seus elementos básicos.

  Como indiquei no vídeo, muitas das críticas à educação escolar não são novas, mas continuam válidas. O famoso Manifesto dos pioneiros da Escola Nova (1932) já indicava o caráter conteudista e magistrocêntrico (professor no centro da atividade escolar) do ensino escolar no início do século XX. De lá para cá a escola certamente sofreu mudanças, sobretudo no campo da educação infantil. Mas ainda que a mentalidade geral dos professores tenha mudado e também a legislação que regulamenta o ensino, a estrutura fundamental do ensino escolar permanece a mesma. O divisão dos alunos em séries, o estabelecimento de uma grade curricular, a avaliação a partir de testes classificatórios, a aprendizagem exercitada predominantemente através de palavras e tantos outros aspectos.

  Seguindo paralelamente ao ensino escolar convencional, algumas experiências pioneiras em educação alternativa resistiram à desconfiança e repressão do sistema mostrando que é possível colocar em prática uma educação libertária, verdadeiramente democrática e progressista. Hoje em dia estas experiências tem se multiplicado e passam a sinalizar, por contraste, as limitações da escola convencional. Este é o tema dos dois filmes indicados no vídeo desta postagem, que, a meu ver, fazem um ótimo apanhado das principais críticas à educação escolar. São eles:

  • Quando sinto que já sei (2014) - Documentário independente dirigido por Antonio Sagrado, Raul Perez, Anderson Lima. A obra reúne depoimentos de pais, alunos, educadores e profissionais de diversas áreas sobre a necessidade de mudanças no tradicional modelo de escola.  Como um projeto independente, o filme parte de questionamentos em relação à escola convencional, principalmente da percepção sobre quais valores importantes da formação humana estam sendo deixados fora da sala de aula no modelo convencional. 

  • Educação proibida (2012) - Documentário independente dirigido por German Doin. A obra é o resultado de mais de 90 entrevistas realizadas em 8 países através de 45 experiências educativas não convencionais e um total de 704 co-produtores.
 

https://youtu.be/OTerSwwxR9Y


Assim, escolhi o filme Educação proibida como um fio condutor para tentar organizar uma reflexão acerca dos problemas da educação escolar. Tal reflexão se estenderá então, além do vídeo de hoje, pelas próximas duas postagens.

Acompanhe o projeto "Como ensino filosofia?". Toda quinta um novo conteúdo :)

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