Como ensino filosofia? # 29 - Cíticas à educação escolar/ parte III ( críticas insiders e outsiders)





  Levando a sério e verificando na prática a validade destas críticas à educação escolar (apresentadas nas duas últimas postagens e também neste vídeo), em diversos momentos da minha carreira na escola pública senti que meu trabalho diário na sala de aula estava sendo um grande erro. E enquanto estava escrevendo esta última linha me lembrei de uma nota antiga que postei no facebook. Fui procurar e ela ainda está por lá, foi escrita em junho de 2015. Reproduzo aqui:


Sabe aquele antigo vídeo clip do Pink Floyd em que a escola é representada como uma esteira rolante na qual crianças com caras de boneco são conduzidas a um sinistro moedor, resultando dali uma massa uniforme?

Pois então, meu emprego na escola pública é "operador de esteira". E, semana após semana, enquanto vou ajudando a operar a imensa máquina fico sonhando com o dia em que os meninos e meninas vão despertar, decidir deixar de ser apenas mais um tijolo no muro e acabar me jogando no fogo junto com os escombros.

Porém, enquanto opero a esteira e alimento o sonho, também sei que todo esse movimento foi só um sonho na cabeça do menino revoltado em sua sala de aula, enquanto tudo segue como antes. E sei que o menino era eu; também.

   Outro desses momentos deprê se deu após conhecer pessoalmente e assistir uma palestra com o mestre José Pacheco. Concordando plenamente com suas críticas e admirando um pouco de suas vivências em educação alternativa (na famosa Escola da Ponte, mas também no projeto Âncora, no Brasil) a conclusão era óbvia: Afinal, se a escola em seus moldes tradicionais parece estar mais emburrecendo do que favorecendo o aprendizado, o que é que estou fazendo lá? Tentando melhorar o que? Principalmente na posição de professor de filosofia estas questões ressoaram como um trovão.

   Penso que aprender a lidar diariamente com essa constatação radical foi uma grande conquista nestes anos de escola pública: nem entrar em depressão, nem se conformar e cruzar os braços, nem esquecer que, em certo sentido as coisas são assim mesmo. O caminho que fui encontrando é o do meio termo entre tentar subverter pequenas coisas que estão ao alcance e sempre tentar algo novo como forma de não se deixar abater pelo conformismo. É por meu alunos, mas é também por mim; na tentativa de manter meu  trabalho na escola minimamente empolgante e promissor de maneira que eu não me sinta transformado em máquina.

 É nesse sentido que no vídeo estou propondo uma chave de leitura que me parece relevante: críticas outsiders e críticas insiders à educação.

  Para aqueles que permanecem na educação tradicional, mas nem por isso vão pendurar as chuteiras no sonho de educar para um mundo melhor, me parece que é preciso pisar com um pé em cada um desses domínios: Manter viva no coração as críticas outsiders para não se conformar e não se enganar achando que apenas dar uma boa aula é o suficiente. Ao mesmo tempo, enquanto as coisas não mudam, persistir em ser um bom professor de sala de aula, encontrando pequenas inovações que possam ir mudando a máquina por dentro.

Quem tem consciência para ter coragem
Quem tem a força de saber que existe
E no centro da própria engrenagem
Inventa a contra-mola que resiste
(Primavera nos dentes - Secos e Molhados, 1973 )
Acompanhe o projeto "Como ensino filosofia?". Toda quinta um novo conteúdo :)


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