Série Boas práticas - Estética e História da Arte

 

O Movimento Modernista e a Escultura Pernambucana

João Eduardo Chagas Sobral

Acadêmico do curso de Bacharelado em Filosofia da Unisul Digital

 

Em uma abordagem dissertativo-argumentativa, este texto expõe a relação entre Arte e Política, destacando a Vanguarda Modernista da segunda metade do século XX. O argumento parte do artista pernambucano Abelardo Germano da Hora (1924-2014), especialmente para a obra Menino de Mocambo (Figura 01) como parte de um conjunto de esculturas e desenhos realizadas na década de 60, em que denuncia a miséria das crianças na periferia da cidade do Recife. Este texto configura-se como introdutório e se destina a um público não familiarizado com o tema.

 

Fonte: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. web, 2021.

        Nesta dissertação entende-se a política na perspectiva proposta por Bobbio (2016, p. 954), que a considera em seu significado clássico e moderno como “[...] tudo que se refere à cidade e, consequentemente, o que é urbano, civil, público, e até mesmo sociável e social […]” e desta forma perpassa todas as nossas relações sociais.

No que concerne a arte, esta carece de consenso sobre o que vem a ser. Coli (1983, p. 8) em seu livro O que é arte, admite ser difícil concluir qual a sua natureza, pois os conceitos até então apresentados são, muitas vezes, contraditórios e divergentes entre si. Porém afirma “[…] podemos ficar tranquilos: se não conseguimos saber o que a arte é, pelo menos sabemos quais coisas correspondem a essa ideia e como devemos nos comportar diante delas […]”.


Estes dois conceitos se atravessam em relações mais íntimas do que muitas vezes imaginamos, pois o fazer e consumir arte é um ato político e, nesta relação intrínseca, muitas vezes cabe à arte a finalidade educacional e crítica social. Para Chauí (2000), a arte está comprometida com a emancipação do gênero humano.

Com este propósito, Abelardo da Hora nos anos 40 do século passado, participou da fundação da Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR) e fundou o Movimento de Cultura Popular (MCP), organizações que iam além das artes plásticas, abrangendo também a dança, a música e o teatro. Com influência de Portinari (1903-1962), Abelardo da Hora produziu inúmeras esculturas na cidade do Recife (Enciclopédia Itaú Cultural, web, 2021).

O Movimento Modernista brasileiro, influenciado pelas vanguardas artísticas europeias, apresentou dubiedade em seus objetivos, pois como afirma Ribeiro (2005), ao mesmo tempo que buscava se engajar em uma modernidade vivenciada pelo velho mundo, se engajava também politicamente na construção de uma identidade nacional, assumindo uma posição autônoma diante de um país carente de coesão social e vivendo uma realidade distinta daquela do velho mundo. Contudo, apesar das idiossincrasias destas vanguardas, tanto a brasileira quanto a europeia sucumbem politicamente à própria modernidade.

Para Subirats (1986) estas vanguardas assumiram uma racionalidade formal identificadas com o desenvolvimento tecnológico e industrial, e sua estética passou a integrar o consumo mercantil. Segundo Hobsbawm (1995), as vanguardas modernistas se tornaram parte da cultura estabelecida pela vida cotidiana.

Abelardo da Hora, como tantos outros artistas de sua geração, viveu o Movimento Modernista em todas as suas contradições, pois apesar de ter usado diversas formas de expressão artística e ter produzido uma arte engajada e identitária, ficou conhecido por suas esculturas em concreto com formas lisas e arredondadas, representando mulheres (Figura 2), as quais passaram a condividir o espaço urbano com os personagens recifenses da cultura popular por ele representadas.

                                                        Figura 2: Mulher Reclinada

                                                        Fonte: Shoppingrecife, web, 2021

 

Por fim, podemos reafirmar que a arte se constitui sempre em uma manifestação política enquanto ação social, o que acontece independente de suas representações.

 

 

 

Referências:

ABELARDO da Hora. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa21706/abelardo-da-hora>. Acesso em: 27 de mai. 2021. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7. Acesso em: 20 de mai. 2021.

BOBBIO, Noberto. Dicionário de política. Trad. Varrriale, Carmem C. et al. 13. ed. Brasília: EDUnB, 2016. (Vol.1)

CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000.

COLI, Jorge. O que é arte. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1983.

HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX 1914-199. Tradução Marcos Santtarrita. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

RIBEIRO, A. C. Fróes. A unidade dos projetos estético e ideológico e a potencialidade do monumento no espaço urbano: o caso do monumento às bandeiras e do monumento Duque de Caxias. Disponível em: https://www.unicamp.br/chaa/rhaa/atas/atas-IEHA-v1-061-071-ana%20carolina%20froes%20ribeiro.pdf. Acesso em 25 de maio de 2021

SUBIRATS, Eduardo. Da vanguarda ao pós-moderno. 2. ed. São Paulo: Nobel, 1986.

Figura1: MENINO de Mocambo. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra15741/menino-de-mocambo>. Acesso em: 27 de mai. 2021. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7. Acesso em: 27 de maio de 2021.

Figura 2: Mulher Reclinada. Disponível em: https://www.shoppingrecife.com.br/esculturas. Acesso em 27 de maio de 2021.

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