Como ensino filosofia # 22 - Exigir menos silêncio




  No dia a dia fazemos silêncio por diferentes motivos: quando precisamos ouvir melhor o que alguém diz, quando precisamos pensar melhor em alguma coisa, quando estamos em grupo e outra pessoa está com a palavra; como aquele ditado que me repetiam quando eu era criança: “quando um burro fala os outros abaixam a orelha”. É verdade que o silêncio também pode ser um método para se acalmar ou buscar algo dentro de si mesmo, ainda que tal uso seja menos popular hoje em dia.

  Embora a justificativa para o silêncio na escola seja a qualidade da concentração nos estudos, na prática o seu uso tem muito mais a ver com respeito e comportamento adequado. Faz parte do ensino escolar moldar crianças e jovens para se tornarem uma audiência, isto é, um coletivo capaz de permanecer ouvindo o que um só tem a dizer. É claro que esse aprendizado é importante para desenvolver a habilidade de socialização dos alunos. Todos nós sabemos como é desagradável encontrar gente sem noção no cinema, no teatro, em uma palestra ou outros ambientes onde a escuta está entre as atividades centrais. Entretanto, quando a demanda pelo silêncio — algo que surge como uma necessidade coletiva em momentos específicos — passa a se converter numa espécie de ditadura, então a escola vai deixando de ser um lugar acolhedor e estimulante.

   No vídeo eu tentei desenvolver a ideia de exigir menos silêncio como um princípio geral que pode evitar bastante desgaste em sala de aula. Exigir menos silêncio não é abrir mão da ordem, mas valorizar um pouco mais aquelas advertências dirigidas aos alunos, para que justamente elas não percam sua força pelo excesso de uso.

  Cabe aqui apenas um complemento: muitas vezes, a exigência do silêncio por parte do professor acaba sendo para nada muito especial. Ou seja, para-se o andamento normal da aula para se exigir o silêncio da turma. Com muito esforço se consegue a atenção de todos para… retomar o andamento normal da aula! Assim, eu sempre estou atento aos momentos mais propícios para conseguir a atenção da maioria sem tanto esforço. Quando estes momentos são alcançados, trato de encaminhar o mais importante da aula, sabendo que em breve é possível que a dispersão retorne.

   A meu ver, faz parte das habilidades de professor saber que partes da sua aula podem ser encaminhadas sem a atenção plena da totalidade dos alunos e que partes exigem uma audiência completamente atenta. Dessa forma se evita a guerra pelo silêncio e, nos momentos em que ele é conquistado, o aproveitamento é bem maior.
 
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