Como ensino filosofia? # 21 - Compartilhar um projeto pessoal




  Dividir algo com meus alunos tornou-se um hábito. Com muito frequência conto a eles algo que vi, que vivi, que li ou que ouvi. Por vezes isso ocorre em meio a algum exemplo ou relação com o que estamos estudando, mas outra vezes não; é apenas para puxar assunto. Fazendo isso eu os entretenho, mas também acabo ensinando muitas coisas indiretamente.

   Por conta deste hábito, com o passar do tempo percebi como é significativo compartilhar um projeto pessoal, ou seja, algo que você está desenvolvendo ao longo do ano letivo. Essa percepção ocorreu de forma bem natural: como eu costumo contar aos meus alunos um pouco da minha história de vida no primeiro dia de aula, todos eles ficam sabendo do motivo pelo qual me mudei, há sete anos, de Florianópolis para o município de Garopaba. E o que me trouxe para cá foi a intenção de ter um contato mais intenso com a natureza, cultivando parte dos meus alimentos. A este nosso projeto de vida eu dei um nome: “(agri)cultura de subsistência”.

   Assim, logo no primeiro ano, ao contar aos meus alunos que estava tentando plantar muitas coisas e aprender a mexer com a terra, com frequência alguém me perguntava em sala de aula: “e aí professor, como vão as batatas?” (ou algo do gênero). Desse modo, sempre que eu ia utilizar o recurso audiovisual em sala, aproveitava os minutos iniciais para mostrar algumas fotos dos meus primeiros esforços no terreno aqui em casa. Logo percebi que essas imagens chamavam muito a atenção da turma. Foi o que me levou, ao final deste primeiro ano, a elaborar uma sequência de slides para contar melhor essa história através de imagens.

   Já no primeiro dia de aula de 2013, ao manter meu hábito de utilizar a primeira aula apenas para me apresentar, eu tinha em mãos um instrumento didático para as turmas de segundo e terceiro ano. Como eles já me conheciam, não cabia repetir a história da minha vida, como fizera no ano que passou. Mas ao ir questionando a turma sobre o que eles lembravam dessa apresentação, logo chegamos ao ponto do meu projeto pessoal. Aí sim, ao passar as imagens de um ano de trabalho na terra, minhas palavras ganharam muito mais conteúdo. Muitos dos alunos ficaram surpresos em ver todas as coisas que fui desenvolvendo em meu tempo livre ao longo daquele ano anterior que passamos juntos.

  Foi dessa forma que os slides do projeto de (agri)cultura de subsistência viraram uma prática constante. Durante o ano me ocupo em registrar aquilo que vou desenvolvendo aqui em casa e, ao final, tornou-se um prazer para mim selecionar e reunir as fotos em uma apresentação. Meus alunos, então, acompanham por dois anos estes registros (no segundo e terceiro ano) logo no primeiro dia de aula.

  Além da apresentação em sala de aula, este material acabou acabou assumindo outras funções importantes, sendo usado em outros contextos e também como uma forma de monitorar e organizar o andamento do meu projeto. No vídeo aproveitei o tema para mostrar uma parte do terreno aqui em casa com algumas áreas de cultivo. As fotos que vão aparecendo no canto da tela são do mesmo local em 2012, bem no início do projeto. 

   É claro que no meu caso pude conciliar esta prática de compartilhar um projeto com algo grande e muito significativo para mim; um projeto de vida mesmo. Desta forma eu faço confluir uma parte substancial da minha vida pessoal com o lado profissional. Contudo, esta estratégia vale para coisas bem mais simples. Se você começou a ler um livro, resolveu aprender a tocar um instrumento, está fazendo uma reforma em casa, decidiu fazer uma pós-graduação, pretende fazer uma viagem diferente… compartilhe com seus alunos e veja como eles podem se interessar. Registre o andamento de seu projeto com algumas fotos e mostre a eles. Penso que ao dividir um pouco dos seus próprios projetos pessoais, um professor acaba ensinando indiretamente muitas coisas diferentes, como persistência, foco em alcançar um objetivo, entre outras coisas. 
 
Outro exemplo: Neste ano que passou tive a oportunidade de conhecer o Uruguai. As fotos de viagem também renderam muitas conversas sobre geografia, outras culturas, política, discriminalização das drogas e tantas outras coisas. 

Acompanhe o projeto "Como ensino filosofia?". Toda quinta um novo conteúdo :)

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