Como ensino filosofia? # 31 - Críticas ao meu ensino de filosofia




  Como é possível que aquele professor que sempre foi visto como “o diferente” na escola por causa de suas aulas e de seu modo de se relacionar com os alunos esteja aqui classificando seu trabalho no campo da pedagogia tradicional?

   De fato não posso negar a presença de vários elementos em minha forma de ensinar filosofia que ultrapassam o molde do ensino tradicional e tem dado bons resultados nos últimos anos. Eles estão justamente apresentados na terceira temporada desta web-série, na forma de princípios gerais e de estratégias concretas. Entretanto, a reflexão de hoje pretende ir ao fundo, analisar a forma básica do meu ensino de filosofia. E aí não há como disfarçar: este fazer em sala de aula, dia após dia, ainda se enquadra no seguinte formato:

É verdade que fiz várias adaptações em todos os pontos deste esquema de forma a não deixar as coisas tão monótonas. Assim,

- O próprio formato da matéria a copiar no caderno não se resume a textos corridos; por vezes contem esquemas com setas e até mesmo pequenos desenhos que os alunos devem fazer (cada um do seu jeito).

- Nas explicações ou aulas expositivas é onde se encontram o maior número de variações, por vezes explicando através de provocações que levam ao debate em sala, por vezes contando uma história, por vezes mostrando uma imagem ou uma música, além dos pequenos vídeos.

- As provas também passaram a variar entre questões sobre o conteúdo no caderno e produções textuais (redações) que tentam trazer o tema para situações de vida dos alunos.

   Então, talvez eu possa dizer que meu trabalho nestes últimos setes anos seguiu na direção de uma potencialização do ensino, dentro dos moldes mais tradicionais. Em outras palavras, fui mudando aquilo que estava mais diretamente ao alcance, sem me comprometer muito com transformações capazes de alterar profundamente o esquema geral do ensino escolar. Os resultados são bons, mas podem (na verdade precisam) melhorar.

   E por que, mesmo fazendo tantos ajustes este formato persiste? Essa é uma boa questão! As vezes penso que isso se deve à sua eficiência, não apenas como forma de ensinar, mas também como forma de produzir o resultado adequado para o ensino escolar: alunos sentados em suas cadeiras ocupados em alguma atividade teórica e médias fechadas ao final do bimestre. Por melhor professor que você possa ser, no fim das contas é isso o que se espera de seu trabalho, seja por parte da direção da escola, pais, gerência de ensino, etc. Dentro destas balizas há uma boa margem de manobra para inovar na escola pública de uma forma pessoal (o que não acontece no ensino particular, onde as escolas geralmente adotam métodos de ensino prontos, com suas enormes apostilas que já predeterminam toda a performance do professor). Porém, avançar para além destes limites já implica em maior disposição para enfrentar o sistema e demanda um trabalho de equipe.

  Então aqui parece que chegamos ao um ponto crítico no tema da transformação do ensino escolar: subverter a forma clássica dos processos de aprendizagem nas salas de aula. Como indiquei mais ao final do vídeo, de alguns anos para cá passei a cogitar a possibilidade de uma “aula sem matéria” e fiz alguns experimentos neste sentido. É nessa direção que seguirão as postagens finais desta série, acerca das inovações em meu currículo I.

Acompanhe o projeto "Como ensino filosofia?". Toda quinta um novo conteúdo :)

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