Como ensino filosofia # 38 - Aula sem matéria - 1o ano




  Na primeira tentativa a incerteza foi grande, mas consegui chegar ao final de um bimestre sem nenhuma matéria no quadro para copiar e sem provas no estilo tradicional. Hoje percebo que minha proposta de aula sem matéria se apoiou em três elementos:

-atividades variadas a cada encontro

- a presença constante do conteúdo filosófico como pano de fundo.

- ênfase no trabalho de registro de aulas no caderno, por parte dos alunos.

   Conforme prometido, segue o link para o acesso a esta programação do primeiro bimestre sem matéria para primeiro ano do ensino médio: 

https://drive.google.com/file/d/1w8UBh392eYhIadU_IYuYdW8Mji81zSE4/view?usp=sharing

  Como tentei mostrar no vídeo, foi importante dedicar uma boa parte do primeiro encontro para “vender” a proposta. Ou seja, mostrar aos alunos que além de uma experiência diferente das outras aulas, aquilo poderia realmente ajudá-los a aprender a estudar e a escrever melhor. Pude sentir que alguns realmente valorizaram meu esforço para tornar nosso trabalho mais dinâmico, outros ficaram mais felizes mesmo foi com a dispensa da tarefa de copiar matéria no caderno.

   Os momentos de produção textual (#35) deram conta de parte da avaliação, além de evocar o elemento da educação emocional (#34) que passei a integrar cada vez mais em minha prática de ensino. A nota do caderno ao final do bimestre complementou então uma terceira nota. Mas para isso funcionar foi necessária uma insistência, uma cobrança mesmo dos registros de aulas. 
  O resultado é que a maioria da turma manteve um registro regular, motivada pela nota a ser dada no caderno. Mais do que isso, em cada sala um ou outro acabou realmente se familiarizando com a prática de anotações de aula, indispensável para um bom desempenho futuro em uma universidade. No caderno eu também exigi que se colassem as produções textuais, para que este pudesse figurar como uma espécie de portfólio. Eventualmente, em um currículo inteiro de aulas sem matéria o caderno se tornaria uma construção individual de cada aluno. Mas, novamente, para fazer isso acontecer foi preciso ter à mão tesouras e colas e fazer com que cada um deles colasse a redação no caderno imediatamente. Deixar isso como tarefa realmente não funciona. (E um dos critérios de avaliação do caderno foi justamente a presença de todas as produções textuais).

  As atividades propostas se estabeleceram então com o intuito instrumental de treinar a escrita e a interpretação, mas também com o objetivo de repetidamente tentar mostrar o que é a filosofia na vida prática. Assim, a análise do vídeo Ilha das flores e da música O pulso (#16) trazem, questões a ser pensadas e servem como exemplos de reflexão crítica. A diferenciação dos tipos de conhecimento procurar mostrar as especificidades da filosofia em relação ao conhecimento científico e ao senso comum. Também a distinção entre subjetividade e objetividade prepara o terreno para a própria definição da filosofia como um tipo de pensamento que faz uma reflexão crítica.

  Essa circularidade em um conteúdo relativamente pequeno me permite passar várias vezes pelos mesmos tópicos, não como repetição, mas como retomadas a partir de novos elementos que vão surgindo a cada aula.




Sem dúvida, no começo criar tudo isso foi bem trabalhoso. Mas agora com o roteiro todo bem afinado, minhas aulas sem matéria no primeiro bimestre se tornam bem mais atrativas para mim mesmo! Ao evitar os momentos de copiar matéria no quadro e conseguir manter a curiosidade da turma sobre o formato da próxima aula meu trabalho se tornou mais leve e espontâneo. Fica evidente que o esquema matéria-explicação-prova atua como um piloto automático no trabalho do professor. Então, o desconforto inicial de abandonar este formato bem conhecido e controlável é inevitável. Mas, por outro lado, romper com este automatismo traz uma sensação muito boa ao fim de cada aula.





O grande segredo para elaborar um trabalho como esse, no ritmo normal da carga horária de professor é nunca tentar fazer tudo de uma vez. Como escrevi no episódio passado, o erro de muitos professores ao tentar revolucionar seu modo de ensinar consiste em assumir um compromisso com todas as turmas ao mesmo tempo. Particularmente, escolhi apenas o primeiro bimestre de uma série para me  aventurar, mantendo o currículo normal nos demais semestre e nas demais séries. Assim foi possível dedicar algum tempo à elaboração das aulas sem sacrificar todo meu tempo livre. 
 
 Após conseguir chegar a um bom resultado com o primeiro ano, parti então o segundo ano; conforme pretendo descrever na próxima postagem. 




Acompanhe o projeto "Como ensino filosofia?". Toda quinta um novo conteúdo :)

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